Itália com um bambino – parte 2 – Toscana
Após maravilhosos dias na Costa Amalfitana, seguimos nossa viagem em direção ao destino mais aguardado: a Toscana! Foram cinco horas de carro entre Positano e San Gimignano, parando apenas para almoçar em um Autogrill (espécie de loja de conveniência e restaurante com diversas filiais espalhadas pelas rodovias italianas). Mas o visual é tão bonito que até esquecemos o cansaço quando começam a surgir as primeiras vinícolas e vilarejos na beira da estrada.
Como queríamos uma experiência mais campestre, ficamos hospedados no hotel Il Segreto di Pietrafitta, a cinco minutos de carro de San Gimignano, fazendo passeios pelas cidades da região. Nos últimos dois dias da viagem, partimos para a capital Florença, de onde pegamos o voo de volta para o Brasil.
Pra quem ainda tem dúvida sobre o próximo destino de viagem, nossa dica é: vá para a Toscana! Afinal, quem não gosta de paisagens deslumbrantes, cidades medievais, além das melhores massas e vinhos?
Vale dizer que nossa viagem aconteceu entre os meses de setembro e outubro, início do outono e época da vindimia (colheita das uvas). Principalmente em setembro, ocorrem diversas festas relacionadas à colheita nos vilarejos da região e o período também coincide com o início da temporada de trufas brancas, já sendo possível encontrar a iguaria em vários restaurantes.
1º dia (San Gimignano):
O hotel que escolhemos fica no meio do nada, entre montes e vinhedos, e recebe a classificação de Agriturismo (fazendas de propriedade familiar, geralmente produtoras de vinho ou azeite, que oferecem hospedagem). Possui bastante espaço para as crianças correrem entre as oliveiras, equipe prestativa e excelente café da manhã incluso na diária, além de piscina e uma vista indescritível de San Gimignano ao fundo. A única ressalva é que, devido à localização isolada, não há muito o que fazer à noite.
Como só chegamos à tarde, resolvemos tirar o restante do dia para conhecer San Gimignano, já que cidade é bem pequena e pode ser tranquilamente explorada em menos de 1 dia. Após entrarmos pelo imponente Portão de San Giovanni, parece que fomos transportados para outra época. São muitas lojinhas e restaurantes legais, além de turistas por todos os lados.
Pouco após a entrada da cidade fica a Piazza dela Cisterna, uma das principais praças, com um poço medieval no meio, e endereço da famosa Gelateria Dondoli. O local ganhou fama (e filas) após vencer um concurso de “melhor sorveteria do mundo” há alguns anos atrás, mas temos que confessar que achamos o sorvete bem normal. Outro atrativo de San Gimignano são suas imensas torres que, no passado, simbolizavam o poder e riqueza das famílias locais.
Dentre os restaurantes que visitamos na cidade, podemos indicar o Peruca (cantina tradicional com ótima comida) e o Boboli (mesas do lado de fora e cerveja artesanal de fabricação própria).
2º dia (Siena):
Há menos de 30 minutos de carro do nosso hotel fica Siena, cidade que consideramos mais interessante em toda a região. Por ser um pouco maior do que as demais, merece pelo menos 1 dia inteiro de visita.
Siena rivalizou por séculos no campo econômico e das artes com a vizinha Florença, mas entrou em declínio após a Peste Negra. A cidade abriga uma das mais respeitadas faculdades da Itália (fundada em 1203) e possui arquitetura medieval muito bem preservada. Seu grande evento é o Palio di Siena, corrida que ocorre 2 vezes ao ano (em julho e agosto), em que cada cavalo e seu cavaleiro representam um bairro e ganha quem completar primeiro três voltas ao redor da Piazza del Campo tomada por uma multidão de moradores e turistas.
E por falar na Piazza del Campo, esta é, sem exageros, uma das praças mais imponentes que já visitamos em nossas viagens. Além de enorme, possui um visual meio sombrio devido às construções medievais de arquitetura única e cor avermelhada. Um ótimo programa com a criançada é fazer um piquenique ali mesmo sentado na praça (há vários locais próximos e até mercadinhos para comprar queijos, salames ou mesmo pizzas). Mais a frente, na Piazza del Duomo, fica a incrível catedral em estilo gótico construída no século XII, cuja arquitetura lembra um pouco o Duomo de Florença, mas em tamanho menor.
3º dia (Chianti):
Nossa ideia inicial era visitar a área de Montalcino e Montepulciano para conhecer a produção do famoso vinho Brunello de Montalcino. Antes de partir, ligamos para a vinícola que pretendíamos visitar para confirmar se era possível fazer uma degustação naquele dia, mas a pessoa que atendeu foi extremamente grossa e desrespeitosa. Assim, resolvemos mudar nossos planos e visitar a região de Chianti. E foi a melhor coisa que fizemos!
Passamos o dia nos perdendo nas pequenas estradas entre os vinhedos de Chianti, região montanhosa e até mais bonita do que outras que já havíamos visitados. Era o auge do outono, o que deixava a paisagem ainda mais perfeita, sem contar nas videiras carregadas de uvas! Paramos para almoçar na pequena Greve in Chianti, onde comemos uma maravilhosa massa com trufas negras na praça principal (infelizmente, não lembro o nome do restaurante), e depois escolhemos a vinícola Castello di Gabbiano para um tour com direito a degustação ao final. Demos sorte na escolha, já que o local é lindo e produz excelentes vinhos, embora não seja um programa tão simples de fazer com crianças (o Nicolas era o único no nosso grupo e ficou um pouco entediado em alguns momentos).
Durante a visita, aprendemos que os vinhos Chianti Classico são produzidos em uma região específica, sendo identificados pelo símbolo do Gallo Nero (Galo Negro) na garrafa, que atesta a qualidade da bebida. Reza a lenda que as cidades de Siena e Florença, cansadas de guerrear no passado, fizeram um acordo para demarcar seus territórios em que cada uma escolheria um cavaleiro e, quando o galo cantasse ao amanhecer, estes sairiam em direção à outra cidade. O ponto em que os cavaleiros se encontrassem seria o limite entre as duas. Assim, Siena escolheu um galo branco e forte e o alimentou bastante na véspera, achando que, com isso, o animal cantaria mais cedo. Já Florença optou por um galo negro e franzino, deixando o bichinho passar fome no dia anterior. O resultado foi que o galo negro, com muita fome, começou a cantar ainda de madrugada, conferindo grande vantagem ao cavaleiro de Florença (que começou o percurso bem antes). Os dois cavaleiros se encontraram quase no limite dos muros de Siena e, a partir de então, a maior parte da região de Chianti passou aos domínios de Florença. Verdade ou não, a história do Gallo Nero certamente deixa a experiência de tomar um Chianti Classico no local onde é produzido ainda mais interessante.
4º dia (Monteriggioni e Pisa):
Foi o dia em que percorremos as maiores distâncias de carro na Toscana, já que Pisa fica a cerca de 1 hora e meia de San Gimignano. Antes do nosso destino principal do dia, fizemos uma breve parada na cidadezinha medieval de Monteriggioni, que, embora pequena, vale a visita. Por ter menos turistas que suas vizinhas mais famosas, ao caminharmos pelas ruelas quase vazias da cidade fica mais fácil imaginar como era o local no passado.
Seguindo nosso roteiro, partimos em direção à Pisa. A estrada não é tão interessante, mas a cidade compensa por uma razão óbvia: a Torre de Pisa. Trata-se, na verdade, do campanário construído no século XII para abrigar o sino da Catedral de Pisa, que, devido ao solo de argila e areia, começou a afundar e inclinar, chegando a ser fechado ao público nos anos 90 devido ao risco de desmoronamento. O famoso ponto turístico fica na Piazza dei Miracoli (ou Piazza del Duomo), que conta ainda com a Catedral de Santa Maria Maggiore, o Batistério de San Giovanni e o Cemitério Monumental. Esse conjunto de edificações branquinhas e de arquitetura singular faz dessa praça algo realmente especial e parada obrigatória pra quem visita a região. O restante da cidade também tem seu charme e vale um passeio de algumas horas.
Na volta, pretendíamos parar em Volterra, cenário de um dos filmes da saga Crepúsculo e famosa pelas peças de artesanato feitas em alabastro, mas preferimos voltar para o hotel mais cedo e descansar um pouco, afinal viajar com criança requer um ritmo mais tranquilo.
5º e 6º dia (Florença):
Antes de entrar em Florença, devolvemos o carro em uma locadora nos arredores da cidade e pegamos um taxi até o centro histórico. Essa é uma dica muito importante, pois em Florença, assim como em outras cidades da Itália, somente veículos autorizados podem circular em determinadas áreas. Ficamos hospedados no Antico Centro Suites, hotel muito bom e bem localizado (na Piazza dela Repubblica), com vários restaurantes e lojas ao redor e até um carrossel bem em frente.
Como nossa experiência com criança no Museu do Vaticano em Roma tinha sido um pouco traumática, resolvemos abortar os museus em Florença e apenas passear sem compromisso pela cidade. A localização central do hotel nos permitiu visitar os principais pontos turísticos a pé. Assim, com bastante tempo para admirar as belezas da cidade símbolo do Renascimento e inspiração de tantos artistas, passeamos pela Ponte Vecchio, pela lindíssima Catedral Santa Maria del Fiore e Palazzo Vecchio, entre outros tantos locais incríveis. Mas o grande destaque foi o pôr do sol na Piazzale Michelangelo, praça no alto de uma colina com vista panorâmica da cidade. Chegar lá a pé e carregando um carrinho de criança pela escadaria foi uma verdadeira aventura (é possível ir de carro também), mas valeu a pena ao ver aquela vista indescritível de Florença. É bom chegar um pouco antes do pôr do sol para encontrar um lugar para sentar, já que o local fica entupido de turistas.
Outro lugar que adoramos foi o Mercado Central. No 1º andar, muitas vendas com produtos típicos da região como azeites, salames e queijos. O 2º andar foi reformado há alguns anos atrás e, hoje, com dezenas de restaurantes, se transformou em um verdadeiro pólo gastronômico da cidade.
Antes de terminar o post, vale fazer uma breve observação sobre a alimentação do Nicolas na Itália, já que, sem dúvida alguma, foi a viagem em que tivemos maior dificuldade nesse quesito até hoje. Com apenas 1 ano e meio na época, ele estava em uma fase de mudança nos hábitos alimentares e, por isso, não aceitava provar novas comidas. Assim, com exceção de Roma onde conseguimos achar um restaurante com buffet e comida mais parecida com a nossa, no restante da viagem ele comeu basicamente massa com molho de tomate quase todos os dias. Nem outros molhos ele aceitava provar. É claro que isso não trouxe nenhum problema pra saúde dele e nem causou qualquer trauma relacionado à alimentação, mas foi um fato que nos gerou certa angustia naquele momento. Por isso, é importante ter em mente que nossos pequenos passam por diferentes fases e nem sempre as coisa irão acontecer da maneira em que planejamos. O importante é relaxar e aproveitar a viagem!
Enfim, o período na Itália nos mostrou que, apesar do que muitos dizem, viajar com crianças não é nenhum bicho de 7 cabeças. Naturalmente, por inexperiência, tivemos algumas falhas de planejamento que serviram de aprendizagem para viagens futuras, mas nada que atrapalhasse. Foram muitos momentos incríveis com nosso pequeno que nos marcaram e só alimentaram ainda mais o desejo de conhecer o resto do mundo com ele.